Parque Lage, Rio de Janeiro — RJ

19/10/2019–12:59

Lia Petrelli

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Mistura espanto, indignação e humor: curiosa geração.

Prefere registrar o corpo no espaço do que observar, viver, experimentar, participar… Será que isso conta?

Depois que tudo passar, ativarão a memória florida de fotos que enaltecem o “Eu visitei um lugar lindo!”

Acabam por viver a invenção.

Deve ser o único meio de sobrevivência da imaginação em tempos como esse nosso, onde o registro — que há muito perdeu significado — tem força maior do que o viver.

Me ocorrem diversos pensamentos e mergulho na quase conversão de hipocrisia infundada. É preciso, sim, partilhar tais perspectivas para que possam crescer, mesmo entendendo que a visão sobre o algo será sempre imensamente particular — daquelas que, se não forem mutáveis, morrem.

Por isso o outro é necessário
?

No pátio interno uma enorme fila, contornando o Palacete, formada para que fotos específicas sejam feitas, bem no centro da piscina, ignorando outros ângulos e corroborando interesse em checar se está tudo certo— duvido que termos de luminosidade entrem em questão, só zoom no rosto, na pose: “E daí que a foto nas mídias não tanto me enalteçam? Eu é que preciso saber que saí bem.”

Como podem ser ignorados os topos das árvores que, de tão longe, parecem intocáveis, mas que permanecem próximas ao toque daqui de cima?

Me horroriza a superficialidade de nós — nos dizimando pouco a pouco, tentando compreender algum outro modo de sobrevier a tempos sombrios, sem darmo-nos conta de que basta que estejamos.

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Lia Petrelli

ig: @liapetrelli | artista em fluxo de consciência: compreendida, palavra vira imagem | liapetrelli.com.br